"Dedé de João Mané" e a Assombração da "Cintura Fina"
Na Santa Luzia da década de 1960, quando a cidade ainda era iluminada pela energia a motor, cada sombra guardava um mistério, e em cada esquina um susto aguardava. Dedé, filho de "João Mané", nunca poderia imaginar que em uma de suas idas à casa da namorada no bairro São Sebastião, lhe renderia uma das histórias mais aterrorizantes de sua vida.
O Sinal do Apagão
Era uma noite comum. Dedé, todo prosa, vinha do Monte São Sebastião, onde a amada morava, ignorando o famoso sinal das 21 horas – aquele pisca-pisca da energia elétrica que avisava: "é melhor se apressar". Quando a luz se apagou de vez, ele já estava no passadiço, um trecho de terra estreito e sombrio a uns 20 metros da casa da namorada.
De repente, o que era apenas escuridão virou pesadelo. Lá estava ela. Ou melhor, as pernas dela. Uma criatura descomunal, de pernas tão longas que, segundo Dedé em conversa com o Professor e Escritor, Engenheiro Agrônomo e Autor do Livro "A Ribeira do Sabugy e Suas Histórias, 1701-1961", José Dantas Neto, as pernas da criatura tinham no mínimo 2 metros de altura. Da cintura para cima? Nada. Só um vazio negro e aterrorizante. Era a famosa "Cintura Fina", a lenda viva que atormentava a cidade de Santa Luzia na Paraíba.
Sem pensar duas vezes, Dedé virou-se e saiu em disparada carreira que nem bala pegava. Correr não, parecia que voava. Quanto mais corria, com uma única passada a assombração o acompanhava.
O Atolamento no Lamaçal
Na correria, cruzando becos e desviando das sombras, Dedé esqueceu da geografia traiçoeira da cidade. Próximo ao açude, precisamente por trás da "revença" do açude, o destino lhe pregou uma peça: enfiou os dois pés num lamaçal que o engoliu até as canelas. Por um momento, achou que a "Cintura Fina" o agarraria ali mesmo. Mas o medo deu forças sobre-humanas e ele saiu dali em disparada. Talvez até suas sandálias ou sapatos tenham ficado para trás.
A Lanterna, o Delegado, Dedé e a Assombração - A Polícia Entra em Cena
Chegando perto da esquina onde ficavam a delegacia e também a cadeia pública, como se não bastasse, um novo susto o aguardava. Um facho de luz forte iluminou seu rosto. Era o delegado Tomé (ele não tem certeza mas acha que esse era o none do delgado), lanterninha em punho e cheio de autoridade.
– O que você roubou, rapaz?! – disparou o delegado, que naquela época tinha fama de prender até pensamento suspeito.
Dedé, ainda sem fôlego e com a voz trêmula, tentou explicar:
– Foi a "Cintura Fina", seu delegado! Aquela coisa com as pernas grandes... Ela apareceu no passadiço... Eu só tava correndo!
O delegado, entre incrédulo e desconfiado, o liberou. Mas o episódio não terminou ali. No dia seguinte, Tomé fez questão de visitar a oficina de "João Mané" para verificar se aquela história mirabolante tinha algum fundamento ou era uma desculpa esfarrapada de um meliante.
– Seu João, o Dedé é dado a inventar história? – perguntou o delegado.
– Inventar não inventa, mas ele é meio medroso... Se ele disse que viu, é porque viu mesmo.
A Lenda Vive
Até hoje, Dedé conta a história com detalhes dramáticos, gesticulando para mostrar o tamanho das pernas da aparição e jurando que escapou por pouco. O beco do finado "Mané de Branca" nunca mais foi o mesmo, e a "Cintura Fina" continua alimentando os medos (e as risadas) dos mais velhos de Santa Luzia.
Mas uma coisa é certa: se alguém quiser passar por lá à noite, que o faça com pressa. Ou com um bom par de sapatos... porque correr é inevitável!
Henrique Melo - Rede Sertão PB
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