Santa Luzia, encravada no Seridó e Sertão da Paraíba, é um símbolo de resistência e cultura, com um passado rnepleto de eventos marcantes que moldaram sua identidade. Neste 24 de novembro de 2024, onde Santa Luzia completa 153 anos de emancipação política, relembramos os acontecimentos, tradições e figuras que consolidaram o nome dessa cidade como um dos grandes patrimônios históricos do Brasil.
Marcos Históricos: Do Sertão ao Palácio do Catete
Santa Luzia é uma cidade de pioneirismo e protagonismo. No ano de 1926, o então presidente da República, Washington Luís, visitou a cidade, destacando sua relevância política e econômica na época. Outra data marcante foi 11 de setembro de 1933, quando o presidente Getúlio Vargas esteve na cidade para inaugurar o Açude Santa Luzia (Açude Novo), depois renomeado para Açude José Américo de Almeida, trazendo a promessa de alívio à escassez de água. No mesmo dia, também foram inaugurados a Agência dos Correios e Telégrafos e a Escola Coelho Lisboa, reforçando a infraestrutura e a educação do município.
Outro grande feito para a cidade foi a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que em 22 de março de 2023, após 97 anos da visita de Washington Luís e 89 anos após a visita de Getúlio Vargas, esteve em Santa Luzia para inaugurar o Parque Eólico Chafariz, no município, ao lado do Ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e do governador da Paraíba, João Azevêdo. Esses marcos políticos refletem a força da cidade no cenário estadual e nacional.
Essas visitas são um marco importante para Santa Luzia, que teve a honra de receber três presidentes da República ao longo de sua história.
Devoção e Tradição: O "Tope do Juiz" e Nossa Senhora do Rosário
A religiosidade é um dos pilares de Santa Luzia. O "Tope do Juiz", uma festividade singular que começou em 1872, é a única do mundo em sua forma. Originada de um erro do juiz que confundiu o local da festa dedicada a Nossa Senhora do Rosário, a tradição se consolidou como uma expressão única de fé e cultura.
A devoção a Nossa Senhora do Rosário, comum em comunidades negras pelo Brasil, ganha em Santa Luzia um caráter especial. A procissão, os cantos e as danças carregam séculos de história, conectando gerações e reforçando os laços entre os habitantes.
Cultura Junina: O Primeiro São João em 1942
As festas juninas em Santa Luzia são reconhecidas como uma das mais tradicionais da Paraíba. A primeira edição, em 23 de junho de 1942, marcou o início de um legado. Com desfiles de carros de bois e cavaleiros, o cortejo arrastava a população pelas ruas, culminando na Praça Alcindo Leite.
O ponto alto era o casamento matuto, um espetáculo cômico e teatral que arrancava risadas e aplausos. À noite, o Mercado Público se transformava em um salão de festa, onde a população dançava ao som de xotes, quadrilhas, rancheiras e camaleão, danças trazidas para a Paraíba pelo "Marinheiro do Catolé", que era natural da Ilhas dos Açores em Portugal. A fogueira, símbolo junino, aquecia as noites frias do sertão, enquanto comidas típicas e brincadeiras encantavam crianças e adultos.
Santa Luzia e a II Guerra Mundial
Poucas cidades brasileiras têm uma relação tão marcante com a Segunda Guerra Mundial como Santa Luzia. Proporcionalmente, foi a cidade brasileira que mais enviou soldados à II Guerra Mundial. Esses bravos homens, conhecidos como "Pracinhas", são homenageados em um monumento dedicado à sua memória, um lembrete perene da coragem e do sacrifício de seus cidadãos.
Lendas, Assombração e a Serra do Yayu
A Serra do Yayu, com sua imponência e a cidade, é palco de muitas histórias contadas de geração em geração. Entre as mais conhecidas, estão as lendas de assombração que habitam o imaginário popular, como a "Cabra Cheirosa" e a "Cintura Fina". Essas narrativas compõem o folclore local, conectando os habitantes ao misticismo do sertão.
Serra do Yayu
Uma das lendas mais famosas está ligada à história da Índia que, perseguida por caçadores, foi capturada e, no momento de sua captura, apontou para a Serra e pronunciou a palavra: "Yayu". Historicamente, acredita-se que esse termo pode significar "Ali Deus", refletindo a importância mística da Serra e o elo com a espiritualidade da região.
O Folclore e a Religiosidade Popular
Santa Luzia preserva um rico folclore. A mistura de danças, festas e contos reflete a diversidade cultural da cidade. As histórias de assombração, passadas à luz do lampião, ganham ainda mais força durante as festividades juninas e outras celebrações populares, criando um ambiente mágico que atrai moradores e visitantes.
Gilberto Araújo da Silva: Um Filho dos Céus
Entre os ilustres santaluzienses, destaca-se Gilberto Araújo da Silva, um dos pilotos mais renomados do Brasil. Sua história está ligada a grandes momentos da aviação brasileira, incluindo o trágico acidente do voo Varig 820 em 1973. Gilberto, que evitou que o acidente tivesse proporções mais graves do que as que teve, levou o nome de Santa Luzia ao mundo, mostrando a força e a competência dos filhos dessa terra.
Uma Cidade de Fé, Festa e Futuro
Santa Luzia é muito mais do que um ponto no mapa da Paraíba. É um lugar onde a história e a cultura caminham lado a lado, onde o passado encontra o presente em celebrações como o São João, o "Tope do Juiz" e as homenagens aos "Pracinhas".
Gavião do Vale
Santa Luzia também se destaca no esporte, com vários atletas ganhando notoriedade em competições em todo o Brasil e até no exterior. A cidade tem produzido talentos em diversas modalidades, e muitos jovens locais têm se destacado em campeonatos nacionais e internacionais. No futebol, o Sabugy Futebol Clube, fundado em 9 de abril de 1923, é um dos principais representantes do esporte da cidade. A agremiação, conhecida como "Gavião do Vale", disputa atualmente o Campeonato Paraibano da Segunda Divisão, sendo um símbolo de paixão esportiva em Santa Luzia. O clube, que tem em seu Estádio Machadão a casa de seus jogos, carrega com orgulho a alcunha de "Gavião do Vale", com uma torcida alvinegra fiel e vibrante.
O futebol local também já viu jogadores de Santa Luzia ingressarem em grandes clubes, levando o nome da cidade para os principais estádios do país. A tradição esportiva do município é motivo de orgulho, com muitos atletas buscando oportunidades no cenário nacional, refletindo o esforço de clubes como o Sabugy Futebol Clube e o apoio da comunidade local.
Banda Duarte Machado
Além do esporte, Santa Luzia também brilha na musicalidade. A cidade é berço de músicos talentosos que se destacam no cenário regional, nacional e até internacional. Um exemplo notável é a Banda Duarte Machado, uma das mais antigas e respeitadas do Nordeste, que celebrou 150 anos de fundação em 19 de novembro de 2024. Fundada em 24 de novembro de 1874, a banda é um patrimônio cultural de Santa Luzia e se tornou um símbolo da musicalidade local. Sua história inclui períodos de crise, mas também de grande revitalização, sempre com a contribuição de músicos da família Machado. Hoje, sob a regência do Maestro Régis Clet, a banda continua a encantar a população, mantendo viva a tradição e a cultura musical de Santa Luzia.
A Banda Duarte Machado não apenas representa a cidade, mas também exerce um papel importante na formação de músicos, que carregam consigo o legado de gerações anteriores. A celebração dos seus 150 anos foi um evento histórico que reuniu autoridades, historiadores e, principalmente, músicos e moradores locais, todos emocionados com a continuidade de uma tradição que tem atravessado séculos. O reconhecimento da importância da Banda Duarte Machado é uma prova de como Santa Luzia, além de ser uma cidade de grandes feitos esportivos, também é um celeiro de talentos musicais que mantêm vivas as tradições culturais da cidade.
Neste dia 24 de novembro de 2024, relembramos tudo o que torna Santa Luzia única: suas histórias, suas tradições e, acima de tudo, seu povo. Que as futuras gerações continuem honrando esse legado, mantendo vivas as memórias que fazem dessa cidade um Tesouro do Sertão.
Henrique Melo - Rede Sertão PB
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