Neste 16 de abril de 2025, quando o tempo, esse senhor implacável, escreve com tinta indelével mais uma página em sua crônica silenciosa, celebramos os 55 anos da Escola Estadual Cidadã Integral Técnica (ECIT) Padre Jerônimo Lauwen. O nome ressoa com solenidade, quase como um salmo antigo, e talvez poucos saibam que há algo realmente de sagrado na sua história, desde o seu surgimento, em seu próprio nome, ao que esse nome homenageia.
A escola, qual vetusta ("muito antiga, respeitável pela idade") instituição, resistiu às ventanias da modernidade, às intempéries ("situações adversas, dificuldades") dos desmandos administrativos e às silhuetas volúveis ("figuras ou perfis que mudam com facilidade") das gerações.
Quantas infâncias ali se fizeram adolescência?! Quantos mestres, em sua profissão às vezes ingrata, praticaram o verbo ensinar como quem semeia em terra brava?! E ainda assim, com altivez ("nobreza, dignidade") de quem carrega o estandarte da esperança. Eis aí a resiliência, palavra moderna para o que outrora se chamava inexorabilidade do espírito ("força ou firmeza inabalável do ânimo").
Se olharmos bem, encontraremos nos corredores da velha escola não apenas paredes, mas remanências ("vestígios, traços que restaram") de vozes, passos, suspiros. Há uma ruminância ("ato de pensar repetidamente sobre algo, meditação persistente") do passado, como diz o autor de Anormalista, que nos impele a revisitar os sentidos. As palavras de outrora — hoje consideradas excêntricas ("fora do comum") , quiméricas ("fantásticas, imaginárias") , talvez até inócuas ("sem efeito, inofensivas"), ainda sussurram entre as frestas do tempo. Quem hoje diria “alhures” ("em outro lugar"), ou entenderia o sabor melancólico de um “melindre” ("sensibilidade excessiva, delicadeza no trato")?! Ou seja, Nos tempos atuais, será que ainda temos espaço para a beleza, a sutileza e o significado profundo dessas palavras?! Quem ainda saberia do “empecilho” ("obstáculo, dificuldade") como algo que não se evita, mas se atravessa com coragem?! A coragem. de muitos que por ali passaram.
Mas que bela palavra essa — melindre. Há um tom de recato ("modéstia, discrição") , de fragilidade que nos falta nos dias de hoje, tão crassos ("grosseiros, sem sutileza") , tão urgentes. A escola nos ensinava isso: a paciência, o devaneio ("sonho acordado, pensamento vago") , o entendimento. Em suas salas, aprendemos que o mundo não é apenas um aglomerado de certezas, mas um campo fértil de ambivalências ("coexistência de sentimentos ou ideias opostas").
Hoje, ao celebrar seus 55 anos, a ECIT Padre Jerônimo Lauwen não é apenas um espaço físico: é um relicário ("lugar onde se guardam relíquias, memórias preciosas") de histórias. É um testemunho da singularidade ("caráter único, incomum") . É também, como nos ensina José Castello, um lugar onde o “anormal” não é exclusão, mas possibilidade. Uma escola que acolheu os taciturnos ("calados, introspectivos") , os desalinhados ("fora do padrão, não convencionais") , os que não cabiam no padrão e por isso mesmo se tornaram maiores.
Que sua memória nunca se torne obsoleta ("fora de uso, ultrapassada") . Que seus ensinamentos não se percam no vão das efemeridades ("coisas passageiras, que duram pouco") modernas. Que cada palavra dita ali, até as mais DIFÍCEIS, as mais ESQUECIDAS, continue ressoando com a força de quem ainda tem algo a dizer.
Porque escola, afinal, é isso: uma promessa que não cessa.
Parabéns a todos que fazem ou fizeram parte da Escola Estadual, hoje ECIT Padre Jerônimo Lauwen. Parabéns pelos seus 55 anos de existência formando gerações.
As origens: a escola antes da escola
Muito antes de receber o nome do saudoso Padre Jerônimo Lauwen e tornar-se referência como instituição de ensino estadual, a atual ECIT de Santa Luzia já se erguia com outra missão. A história do prédio remonta do início da década de 1950, quando funcionava ali a Escola Normal, destinada à formação de professoras, sob a condução religiosa de freiras. A primeira diretora foi a Madre Sampaio, figura central não apenas na gestão pedagógica, mas também na própria idealização da obra. Foi ela quem impulsionou a construção do prédio que se mantém por muito tempo como símbolo de educação e resistência no sertão paraibano.
A Escola Normal foi um projeto sonhado e materializado por Silvino Cabral da Nóbrega, mais conhecido como Dr. Nino, um visionário que acreditava no poder transformador do ensino. A pedra fundamental da escola foi lançada em cerimônia solene que reuniu autoridades e figuras ilustres da cidade. Na ocasião, usaram da palavra o Dr. Austregésilo Ferreira Tavares, Pedrinho de Chico Vicente e Bartholomeu Theotônio de Medeiros. O assentamento simbólico da pedra coube a Ernani Pessoa. Mesmo debilitado pela doença, Dr. Nino fez questão de comparecer ao ato e, após a cerimônia, foi levado de volta à sua casa na boleia de um caminhão Chevrolet azul, gentilmente conduzido por José Amâncio de Lima.
A construção contou com o trabalho incansável de muitos nomes que a memória coletiva ainda preserva: o Mestre José Fausto e seu braço direito, Manoel Eugênio de Medeiros, lideraram a empreitada. Pedreiros como Sabino Roque e Orlando Arcanjo de Araújo, bem como serventes como Izaías e Firmino Galvão, moldaram os alicerces com as próprias mãos. A lama usada para os tijolos era retirada do açude Padre Ibiapina, fonte primordial também para outras construções históricas da cidade. O transporte dos tijolos, em tropas de jumentos, era feito por João Paulino da Silva, o popular João Gavião — um trabalhador incansável que se destacou nessa tarefa. Outros nomes, como Francisco Eugênio dos Santos e Sebastião Ciríaco da Silva, também deixaram suas marcas nessa história de barro e suor.
O terreno onde a escola foi edificada foi doado pelo médico dermatologista (radicado em Natal), Olavo Silva de Medeiros, irmão do Deputado Jader Medeiros, e que era sobrinho da esposa de Dr. Nino, Maria da Paz Medeiros Cabral, e a escritura foi lavrada no primeiro Cartório Machado, de propriedade do senhor Jovino Machado da Nóbrega. Esses alicerces, simbólicos e literais, sustentam até hoje a missão educadora daquela que viria a se tornar a Escola Estadual Padre Jerônimo Lauwen. Uma escola que nasceu do sonho coletivo de uma cidade e que, mesmo cerca de 70 anos depois de sua construção original, segue firme em sua vocação de ensinar, formar e transformar.
Com informações Renato Medeiros do Instituto Histórico e Geográfico de SantaLuzia (IHGSL)
Henrique Melo - Rede Sertão PB
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