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O silêncio depois das 11 horas da manhã daquele dia 10 de abril de 2021 - Um dia JAMAIS esquecido



 
Hoje, 10 de abril de 2025. Fazem quatro anos.

E ainda é difícil de compreender o que de fato aconteceu naquele dia. Até às 11 horas da manhã, minha irmã era pura vida. Falava com os amigos, conversava com os parentes, trocava mensagens, fazia planos. Tinha até combinado de ir a Campina Grande-PB, onde uma prima faria um show live (cantora). Ela ia assistir, se empolgar, sorrir… Era uma mulher viva, comunicativa, sensível.

Mas, de repente, tudo mudou.

 

Por volta das 11 horas da manhã,  ela estava ao telefone com uma prima, quando comentou que o namorado havia chegado alegando dores nas costas. Disse algo como: “Fulano chegou, vou aqui dar uma massagem nele.” A pessoa do outro lado da linha ouviu claramente. O carro foi visto estacionado em frente à casa (por um longo tempo). Depois disso, a porta foi fechada. E o silêncio se instalou.

Era um silêncio estranho, porque a casa da minha irmã era viva. Quem passava em frente ou morava por perto sabia: era normal ouvir sons vindo de dentro — a voz dela falando alto ao telefone, o som do aparelho tocando, ela atendendo, conversando, rindo. As janelinhas da porta e das janelas ficavam entreabertas, deixando o vento circular.

Mas naquele dia, desde que o namorado chegou, tudo se calou. A porta foi fechada, as janelas fechadas também. O carro ficou por muito tempo parado em frente. Não se ouviu mais a voz dela, nem som de telefone, nem passos, nem nada. Era como se a casa tivesse sido lacrada.

A tarde foi passando. Primas, amigas e familiares começaram a ligar — e ela não atendia. Chegou a noite. Eu também liguei e já pressentindo que algo de ruim pudesse ter acontecido (a gente pressente), até pelo relatos que a mim chegavam sobre o relacionamento conturbado dela e o namorado. O telefone chamava, mas, do lado de fora da casa, não se ouvia nada. Nenhum toque, nenhum barulho. O celular estava no silencioso — o que era completamente fora do comum para ela.

Ela jamais colocava o celular no silencioso. Sempre fazia questão de deixar com o som ativado, porque queria estar disponível, conectada com todos. Aquilo nos confundiu, até nos aliviou por um instante, achávamos que ela não estava em casa, que tinha saído e a qualquer momento voltaria. Mas ela estava lá dentro. Só que já estava sem vida.

Foi encontrada enforcada, com uma corda no pescoço. Sua morte pode ter acontecido ainda no final da manhã para o início da tarde.

 



Uma imagem que nos persegue, que dói profundamente, que incomoda a alma. Uma morte repentina, envolta em silêncio e estranheza. E desde o começo, sabíamos: aquilo não era um simples suicídio.

 

Minha irmã vinha sendo VÍTIMA de um relacionamento abusivo. Ela sofria violência psicológica, emocional. E havia testemunhas — vizinhos, amigas, familiares — que sabiam: o namorado dela dizia frases cruéis, revoltantes. Coisas como: “Suba no banco, coloque a corda no pescoço e se enforque.” E o mais chocante: ele empurrava o banco para ela subir.

Era uma espécie de tortura contínua. Indução, humilhação, controle. E ela se calava. Talvez por medo de perdê-lo (ela se apegava facilmente aos relacionamentos e ficava emocionalmente dependente deles), ou por vergonha, ou ainda por acreditar que ninguém entenderia.

Mas os sinais estavam lá. No dia da morte, tudo ficou ainda mais claro. Desde que ele chegou, a casa mudou. A rotina mudou. A vibração mudou. O silêncio dele apagou a vida dela.

Não houve inquérito policial imediato. A princípio, trataram como suicídio. Mais uma mulher que teria “desistido da vida”. Mas não era isso. Não podia ser isso. Eu fui ao Ministério Público. Denunciei. Não podia deixar a história da minha irmã ser enterrada com ela.

O Ministério Público acolheu e determinou. A Polícia designou um delegado especial. E então o caso mudou de tom: de suicídio para homicídio doloso, com intenção de matar.

Hoje, o processo está em andamento. O acusado - o namorado - irá a júri popular. E enquanto isso, a dor continua aqui, latente, em carne viva.

Teve mais: quando, na época, publiquei uma matéria mostrando a verdade, com a foto dele e a dela do lado e no topo da matéria, denunciando o fato de não ter tido o inquérito policial para apuração dos fatos, e passado já alguns dias sem que o mesmo ocorresse, inclusive, depois de vencido um prazo de 20 dias que o Ministério Público havia dado para que o mesmo tivesse início, vencido esse prazo, por ter postado a foto dele na matéria, uma foto pública e aberta, retirada de seu Facebook, uma foto postada por ele mesmo, ainda mais, uma foto dele de óculos escuro, escolhi essa até como forma de não fazer uma exposição direta do seu rosto, como se fosse uma tarja para disfarçar (mesmo depois de tudo ainda tive esse cuidado), e fui por isso processado. Me cobraram R$ 44 mil de indenização. Tentaram me calar. Mas eu NÃO ME CALO. JAMAIS. 

E o que é pior, na ação ele solicitou e me foi determinado que retirasse a matéria do ar, como também, que retirasse um slide de fotos dela, somente de fotos dela, uma homenagem a ela. ISSO PRA MIM FOI UM VERDADEIRO ABSURDO. Além de irmão da vítima, uma vítima de abusos, humilhações e agressões e indução ao suicídio, também me calaram como jornalista.

Ela era feita de vida. De planos. De afeto. E foi silenciada.

Mas enquanto eu tiver voz, VOU FALAR POR ELA.

Quantas outras mulheres estão, neste momento, vivendo o mesmo terror?! Sendo caladas dentro de suas próprias casas?! Quantas estão sendo destruídas aos poucos, psicologicamente, até que reste apenas o desespero?!

Quantas ainda vão morrer até que essa sociedade acorde?!

A memória da minha irmã precisa ser um grito.

Um alerta.

Uma ferida aberta que nos lembre do quanto ainda somos lentos, injustos e omissos.

Que sua morte nos desperte. Que sua dor não tenha sido em vão.

A justiça precisa acontecer. A verdade precisa vir à tona.

O silêncio dela não pode ser o nosso. E NÃO SERÁ O MEU.

Henrique Melo - Rede Sertão-PB

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